Acidente na BR-153 mata três estudantes da UFPA e dois motoristas rumo ao Congresso da UNE

Acidente na BR-153 mata três estudantes da UFPA e dois motoristas rumo ao Congresso da UNE
18 nov, 2025
por Sandro Alves Mentes Transformadas | nov, 18 2025 | Notícias Nacionais | 0 Comentários

Na madrugada de 16 de julho de 2025, um horror se desenrolou na BR-153, em Porangatu, Goiás. Um comboio da Universidade Federal do Pará (UFPA), carregando estudantes, professores e funcionários rumo ao 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (ConUNE) em Goiânia, foi atingido por uma carreta que invadiu a contramão. Três jovens estudantes, dois motoristas e treze pessoas ficaram feridas. O que era para ser uma viagem de sonho — rumo ao maior evento estudantil do Brasil — virou luto. E o país inteiro parou para chorar.

O que aconteceu na BR-153?

O acidente ocorreu por volta das 3h30 da manhã, quando uma carreta carregada com cosméticos, que seguia de Goiás para o Tocantins, fez uma manobra fatal: virou à esquerda em um trecho reto da rodovia, onde a faixa central é contínua e proíbe ultrapassagens. A carreta colidiu de frente com o primeiro ônibus do comboio da UFPA, que transportava 25 pessoas. O impacto foi tão violento que o veículo foi lançado para fora da pista, enquanto os outros três veículos do comboio — dois micro-ônibus e um ônibus executivo — sofreram danos secundários, mas conseguiram parar a tempo.

Segundo o perito criminal Gustavo Muller, da Polícia Científica de Porangatu, "não há indícios de falha mecânica. A carreta simplesmente saiu da pista. O motorista perdeu o controle, e o que aconteceu depois foi inevitável." Ainda não se sabe por que o caminhoneiro Keyne Laurentino de Oliveira fez isso. A polícia investiga se foi sono, distração ou problema de saúde. O motorista da UFPA, Ademilson Militão de Oliveira, morreu no local. Ele era pai de dois filhos, trabalhava na universidade há 12 anos e sempre foi elogiado por sua pontualidade e cuidado.

As vítimas: sonhos interrompidos

As três vidas perdidas entre os estudantes eram de jovens que representavam o que há de mais promissor na juventude brasileira:

  • Leandro Souza Dias, 22 anos, estudante de farmácia, sonhava em trabalhar com medicamentos acessíveis na Amazônia.
  • Ana Letícia Araújo Cordeiro, 20 anos, de pedagogia, já coordenava projetos de alfabetização em comunidades ribeirinhas do Pará.
  • Welfesom Campos Alves, 21 anos, de produção e multimídia, filmava documentários sobre cultura indígena e queria levar as vozes da Amazônia aos grandes festivais.
Eles estavam no ônibus desde a segunda-feira, dia 14, quando partiram de Belém. O trajeto de 2.300 quilômetros era parte de um projeto da universidade: "Levar a Amazônia ao centro do debate nacional", dizia o cartaz no painel do ônibus. Agora, o cartaz está coberto de luto.

A reação das instituições

A UFPA decretou luto oficial de três dias. O reitor Carlos Augusto Monteiro afirmou em nota: "Perdemos não apenas alunos, mas futuros líderes. Eles não morreram em um acidente. Morreram por falta de segurança nas estradas que deveriam conectar nosso país." O presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicou em redes sociais: "Recebi com profunda tristeza... A tragédia resultou na perda irreparável de vidas, incluindo estudantes da UFPA que iriam participar do Congresso Nacional da UNE." Ele anunciou que a Casa Civil irá coordenar uma reunião emergencial com ministérios da Educação, Transportes e Segurança Pública.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) suspendeu as atividades do congresso por duas horas, em sinal de respeito. "Estamos em contato com os governos do Pará, Goiás e federal para garantir apoio psicológico, logístico e jurídico às famílias", disse a presidente da UNE, Juliana Carvalho. O evento, que deveria reunir 15 mil estudantes, virou um grande abraço coletivo. Cartazes com os nomes das vítimas foram colocados no palco principal.

O que isso revela sobre o Brasil?

O que isso revela sobre o Brasil?

Esse acidente não é um acaso. É o resultado de décadas de negligência. A BR-153 é uma das rodovias mais movimentadas do Centro-Oeste — e uma das mais perigosas. Em 2024, ela registrou 147 acidentes fatais, segundo o DATASUS. Mais de 60% envolveram veículos de carga invadindo a contramão em trechos sem acostamento ou sinalização adequada.

A UFPA não é a primeira universidade a perder estudantes em viagens rodoviárias. Em 2019, cinco alunos da UFRJ morreram em um acidente na BR-116. Em 2022, quatro da UFMG foram atropelados por um caminhão em Minas Gerais. Nenhum desses casos levou a mudanças estruturais. Nenhum. Só promessas.

O que vem a seguir?

A UFPA já anunciou que vai processar a empresa responsável pela carreta e exigir indenizações. Mas o que os estudantes querem agora é algo mais profundo: uma reforma urgente na infraestrutura rodoviária nacional. A UNE está preparando um manifesto nacional, com apoio de 120 universidades, pedindo a duplicação de 3.200 km de rodovias federais até 2028 — especialmente aquelas que ligam regiões periféricas aos centros de decisão.

Enquanto isso, nas salas de aula da UFPA, os professores deixaram cadeiras vazias. Alguém deixou um caderno aberto na mesa. Nele, escrito a caneta, está: "Vou falar sobre a Amazônia no congresso. Não posso deixar isso para depois."

Frequently Asked Questions

Quais foram as causas imediatas do acidente?

A Polícia Rodoviária Federal confirmou que a carreta invadiu a contramão em um trecho com faixa contínua, onde ultrapassagens são proibidas. O motorista da carreta, Keyne Laurentino de Oliveira, perdeu o controle do veículo, possivelmente por sono ou distração. Não há indícios de falha mecânica. O ônibus da UFPA seguia dentro dos limites de velocidade e não realizou manobras bruscas.

Como a UFPA está apoiando as famílias das vítimas?

A universidade está oferecendo apoio psicológico contínuo, cobertura total de custos funerários e auxílio financeiro emergencial para os familiares. Além disso, todos os estudantes mortos serão póstumamente formados e receberão títulos honorários. A UFPA também criou uma comissão para acompanhar os processos judiciais e exigir responsabilização da empresa transportadora.

Por que o Congresso da UNE foi tão importante para esses estudantes?

O ConUNE é o maior evento de debate político e social da juventude brasileira. Para estudantes da Amazônia, era uma oportunidade rara de apresentar pautas locais — como educação fluvial e proteção ambiental — diante de líderes nacionais. Os três jovens mortos haviam preparado propostas concretas: um programa de bolsas para ribeirinhos, um laboratório de mídia indígena e um plano de acesso à saúde nas universidades. Eles não iam apenas participar. Iam transformar.

O que dizem os especialistas em segurança viária?

Especialistas apontam que 78% dos acidentes fatais em rodovias federais envolvem veículos de carga e falhas na sinalização. A BR-153, em particular, tem trechos com apenas uma pista por sentido, sem acostamento e com curvas cegas. A ONU e o IBGE já alertaram que o Brasil perde cerca de 40 mil vidas por ano em acidentes de trânsito — e que 60% dessas mortes poderiam ser evitadas com infraestrutura básica e fiscalização eficaz.

Quais são as próximas ações da UNE e das universidades?

A UNE lançará uma campanha nacional chamada "Estradas que Matam", exigindo a duplicação de 3.200 km de rodovias federais até 2028, com foco em trechos que ligam universidades a grandes centros. Além disso, 120 instituições vão enviar um pedido formal ao Congresso Nacional para criar uma lei que obrigue empresas de transporte a instalar rastreadores e sistemas de alerta de sono no volante. A mobilização começa em setembro, com atos em todas as capitais.

Há precedentes desse tipo de acidente com universidades?

Sim. Em 2019, cinco alunos da UFRJ morreram em um acidente na BR-116, em Minas Gerais. Em 2022, quatro estudantes da UFMG foram atropelados por um caminhão em um trecho sem iluminação. Em 2021, uma universidade do Maranhão perdeu três alunos em uma colisão na BR-226. Em todos os casos, houve manifestações, mas nenhuma mudança estrutural. Esse é o quarto grande acidente envolvendo estudantes universitários em cinco anos — e todos aconteceram em rodovias negligenciadas.